quarta-feira, 12 de março de 2014

Filme Viagem a Ushuaia - Parte II

E aí está a última etapa do Filme da viagem a Ushuaia, agora na versão para Iphohe e Ipad.
A Parte I também está agora na versão para Iphone e Ipad.
Curtam e deixem seus comentários.

https://www.youtube.com/watch?v=l1zc4oHGldM

sábado, 1 de março de 2014

Filme da viagem a Ushuaia - Parte I

Pessoal, finalmente saiu o filme da viagem a Ushuaia. Para não ficar muito grande e pesado, resolvi dividi-lo em partes. Acho que teremos três partes, mas pode ter mais. Estou disponibilizando aqui apenas a Parte I. As demais virão em breve. Espero que curtam. Acessem o link abaixo.

https://www.youtube.com/watch?v=HO4wl5MWb2o

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Epílogo - Crônica de uma viagem anunciada

Mapa do Roteiro Final



Com toda a reverência e sem querer ao menos chegar aos pés de Gabriel Garcia Marques, faço aqui um plágio do título de sua crônica homônima para relatar o último capítulo da minha aventura. Uma viagem que fora anunciada quatorze meses antes de sua realização. Um sonho que, enfim, virou realidade. E que , dadas as dificuldades por que passei, teve um gosto especial. Ao seu final, algo de diferente há em mim. Eu sei.

Foram 13.430 km percorridos em 25 dias, por 4 países, incluindo o Brasil. Nas minhas anotações, foram consumidos exatos 948,1 litros de gasolina por minha motocicleta, uma V-Strom, 650 cilindradas. A minha pretinha, como a chamo. Moto guerreira que não deu nenhum trabalho, apenas reclamou da falta de um pouco mais de cuidado pelo seu dono, quando afrouxou a corrente e, cansada, me fez parar para dar-lhe mais atenção. Homem e máquina, apesar de prosaico, devem interagir como se fossem velhos conhecidos. Um escutando os alertas do outro, de modo que a harmonia do funcionamento de seus corpos possa estar em perfeita sintonia.

Em novembro de 2013, decidi que faria esta viagem. Como já relatado no capítulo "Como tudo começou", desde essa época, a viagem já havia sido anunciada em minha mente. Uma certeza inexplicável de que iria realizá-la se abateu sobre mim e comecei a planejá-la. A internet - ah, a internet! - foi a principal ferramenta a ser utilizada. Pesquisei blogs, li relatos e acabei até comprando um livro de um aventureiro motociclista. Definido o roteiro, viajei várias vezes por entre as nuvens do Google Earth para observar cada lugar, cada bifurcação, cada metro das estradas por onde passaria. Viajei tanto nesta ferramenta que, em certos lugares por onde passei na viagem real, lembrava do que já tinha visto.

A viagem teve início em Curitiba. Em Balneário Camboriú, encontrei o meu parceiro de viagem, Fábio Machado, que havia conhecido há pouco mais de um mês pela internet. Estava tão convicto da viagem que a faria sozinho se não o tivesse conhecido. Um grande parceiro. Ao final da viagem, parecia que nos conhecíamos há bastante tempo. Para compatibilizar os nossos roteiros, resolvemos que iríamos entrar na Argentina pelo Uruguai. Assim, mais um país foi incluído no meu roteiro original.

O início da viagem, para mim, foi um pouco apreensivo. Não por medo do que viria, mas porque já começava a sentir o meu joelho incomodar. Já incomodava desde a partida de São Luis para Curitiba, feita de avião. Para não correr riscos, tomei, antes de sair, a prescrição médica recomendada para esses casos: uma injeção de anti-inflamatório. Em Balneário Camboriú, procurei um posto de saúde para tomar a segunda dose.

Nos apresentamos no hotel e, na manhã seguinte, partimos. Apesar da temperatura amena no início, o clima não demorou em esquentar. Um calor insuportável. De vez em quando, abria a jaqueta para pegar um vento e tentava reposicionar o joelho para amenizar o incômodo que começava a aumentar. Comecei a ficar preocupado e temer pelo sucesso da viagem. Mas, enfim, seguir era preciso. Em Pelotas, onde paramos pra dormir, a primeira coisa que fiz foi tomar a terceira dose da injeção. Não tivemos sorte na escolha do hotel. O calor, que já não era fácil, ficou pior porque o hotel não dispunha de ar condicionado. Uma noite mal dormida fez aumentar o desconforto no joelho.

A etapa seguinte seria Colônia Sacramento, no Uruguai, onde pegaríamos o buquebus para Buenos Aires. Chegamos tarde em Colônia. Senti que a quarta injeção era preciso. A situação não estava fácil e tomei a decisão de desistir da viagem. Não queria atrapalhar a viagem do Fábio. Um sentimento de frustração se abateu sobre mim. Fiquei pensando no tempo que fiquei planejando e anunciando esta viagem, nas pessoas que torceram por mim. O Fábio, por outro lado, incentivava-me para continuar. Pegamos o buquebus e eu havia decidido ficar em Buenos Aires. O Fábio decidiu continuar sozinho. Durante a travessia, entretanto, algo me fez reverter a decisão e resolvi continuar a viagem. Afinal, precisava vencer este desafio. Nas próximas duas paradas, tomei mais duas injeções aplicadas pelo Fábio depois que disse já ter feito isso antes. O joelho ficou bom, o astral retornou e a viagem prosseguiu dentro do planejado.

Fizemos mais algumas paradas, pegamos uns 120 km de rípio - que, para mim, mais parecia asfalto - e finalmente chegamos a Ushuaia, depois de 07 dias e 5.570 km percorridos. O objetivo, enfim, havia sido alcançado. Um sentimento de felicidade já se abatia sobre mim alguns quilômetros antes. Um filme em retrospectiva invadiu a minha mente eufórica. Pensei em quase tudo. No antes, no durante e no depois da viagem. Fiquei imaginando as consequências sobre mim se houvesse desistido. Se fosse proporcionalmente contrário ao sentimento que sobre mim se instalava naquele momento, seria terrível.

Curtimos Ushuaia, curtimos as outras cidades que conhecemos na Argentina e no Chile, curtimos os diversos pontos turísticos e, principalmente, as rodovias em paisagens belíssimas e suas curvas que nos faziam ficar em êxtase. Afinal, o importante em uma viagem de moto não é chegar, mas percorrer o caminho. É fazer parte da paisagem, cujo sentimento é único quando percorrido em cima de uma motocicleta. E o que faz alguém viajar de moto durante 25 dias, percorrendo mais de 13.000 km? O que nos move? Essa é uma resposta que só cabe a cada um de nós. Cada um tem sua "viagem" que pode ser de qualquer forma. Afinal, como diria Robert Pirsig em seu livro Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas: "O verdadeiro veículo que conduzimos é um veículo chamado 'nós mesmos'."

Se eu me encontrei? Não sei. Acho que nunca o saberei. Apenas sei que o caminho se tornou mais leve, que as placas de sinalização ficaram um pouco mais claras e que não importa onde elas me levarão. Que apenas me levem de forma branda. Constatei o que já sabia: que felicidade não é um ponto final a ser atingido. Nada mais é que momentos de uma estrada. E esta viagem me deixou, em muitos momentos, feliz. Não há nada mais prazeroso e gratificante do que atingir uma meta estabelecida. Isso é felicidade. Simples assim. Para o autor do livro citado acima, somos divididos na categoria dos Clássicos e Românticos. Os Clássicos são considerados funcionais e mecanicistas, muitas vezes céticos, como eu. Esta versão se aflora um pouco mais em mim, talvez influenciado pela minha formação técnica. Os Românticos, por sua vez, são considerados um pouco mais amantes da superficialidade das coisas, da natureza, do que está à sua volta. Acho que conquistei um pedacinho mais desse lado.

"Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu."
                                                       Fernando Pessoa



quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

20º ao 25º Dia - Vina Del Mar-Mendoza-Uruguaiana-Curitiba - 24/01 a 29/01/2014

Vina Del Mar ficou para trás. Rumamos para Mendoza, na Argentina. Já estávamos preparados para a próxima burocracia fronteiriça. Por outro lado, o percurso que iríamos fazer no dia era de apenas 400 km, bem menos que a média de 800 km que estávamos percorrendo. Além disso, iríamos passar pelos caracoles, com curvas que deixam qualquer motociclista extasiado.

Ao chegarmos na fronteira, havia uma cabine onde um policial parava os veículos, anotava a placa e entregava um papelote carimbado para ser apresentado no local do trâmite, quinze quilômetros adiante. No caminho, o Fábio me mostrou um montanha que se destacava das demais por ser a única que se apresentava coberta de neve. Paramos e depois ele me disse que se tratava do monte Aconcágua. Quando criança, aprendi que era o ponto mais alto da América do Sul. Paramos para tirar fotos. Ventava muito. Quando abri a bolsa que carrego no tanque para tirar o celular, não lembrei que havia guardado os papelotes que o guarda nos entregara e um deles foi-se com o vento. Tentamos pegá-lo, mas não conseguimos. Seria praticamente impossível com aquele vento todo e os abismos que ladeavam a rodovia. Não havia o que fazer, apenas relaxar e tirar as fotos com o Aconcágua ao fundo.


Após curtir o visual do Aconcágua, fui devagarinho na esperança de encontrar o pepelote ainda preso a algum galho da vegetação rasteira da beira da estrada. Mãos no guidon e olho na estrada, eis que avisto um pepel branco preso na vegetação. Páro a moto e rapidamente salto sobre o papelote que já estava se desprendendo. Era o bendito documento. Se o tivéssemos perdido, talvez teríamos problemas mais adiante. Quando chegamos ao local do trâmite, uma fila tripla de carros se formava. Nas fronteiras anteriores, avançávamos e deixávamos as motos na sombra, próximo ao prédio e entrávamos na fila de pessoas. Desta vez, tivemos que ficar na fila, ao sol, com as motos, pois o trâmite desta vez era feito da forma "drive thru". Ficamos mais de uma hora ao sol escaldante.

Mais adiante, fomos compensados pela paisagem dos caracoles. Uma estrada sinistra, perigosa, mas para nós, motociclistas, uma delícia. Várias curvas fechadas de 180 graus faziam formar filas de carros subindo a montanha. Lá em baixo, víamos as curvas que deixávamos pra trás. Não dava para admirar, pois parar não era possível. Filmei grande parte da subida. Em alguns trechos, homens trabalhando fazendo reparos na estrada. Em alguns momentos, usando a força e a agilidade das motos, conseguíamos ultrapassar. Depois, começamos a descer. As curvas um pouco mais brandas permitiam-nos um pouco mais de velocidade. Um excelente campo de prova para aplicar a técnica do contra-esterço que havia lido nas minhas consultas sobre técnicas de pilotagem. Esta técnica permite que se façam curvas de forma mais segura e com menos esforço. É bem simples. Consiste em forçar o guidon da moto para o lado oposto à curva que se vai fazer. Com isso, a moto inclina-se para a curva e a moto segue na direção pretendida. Cada curva era uma emoção. Guardada as devidas proporcões, era quase como ter um orgasmo. Uma delícia.

Passamos por vários túneis por dentro das montanhas até chegar a Mendoza. Havíamos reservado um hostal pelo Booking. Quando chegamos, uma moça com ar de quem acabara de acordar veio nos receber. Guardamos as motos na garagem e ela foi nos mostrar o quarto. Era um quarto pequeno, com duas camas pequenas e sem banheiro, bem diferente do que havíamos reservado. Ela muito falante e simpática, mostrou-nos outros dois quartos grandes com cama de casal e banheiro. Como ficaríamos apenas um dia, deu-nos um quarto para cada um. Dessa vez, bem acima do que havíamos reservado. O quarto ainda carecia de uma arrumação. De repente, lá vem ela com balde e vassoura e começou a fazer uma limpeza básica. "Na minha casa - Mi Casa era o nome do hostal - limpeza é fundamental", disse. Lorena era o seu nome. Muito simpática e nos tratou como se fôssemos da família. Depois conhecemos Jorge, seu marido, que se encantou com as motos e tirou algumas fotos.

No dia seguinte, rumamos para Villa Maria, última cidade Argentina onde dormiríamos, antes de entrar no Brasil. Quando chegamos, ficamos um pouco desorientados à procura de um hotel. Por sorte, passamos por um bar, onde haviam vários motociclistas. Paramos e nos informamos. Um deles se prontificou a nos levar até o hotel que nos haviam indicado. Um dos melhores da cidade. Apesar de muito bom, o hotel não era tão caro. Em torno de 600,00 pesos argentinos. Mais ou menos 60 dólares, pelo câmbio que estávamos trocando.

Acordamos bem cedo na tentativa de rodar um pouco mais e dormir em São Borja-RS, que fica a 180 km de Uruguaiana-RS, onde estava inicialmente planejado passar a noite. Na saída da cidade, observo um barulho estranho na moto. Percebo que a corrente estava folgada e páro em um posto para observar melhor. Após análise - depois verificou-se ter sido muito superficial - resolvo que dá pra continuar e apertar depois. Após andarmos uns trezentos quilômetros, logo depois de passarmos por um pedágio, a corrente se desdentou. Parei e tentei colocá-la no lugar. Observo que a corrente também havia saído do pinhão, o que me obrigaria utilizar ferramentas para retirar a tampa protetora. Vou nas ferramentas que acompanham a moto e percebo que não existe uma chave tipo canhão número 8. Por sorte, bem ao lado do pedágio, existia uma base de assistência para o túnel que passava sob o rio, próximo a cidade de Parana. Arrumaram-me a chave e facilmente coloco a corrente e a reaperto. Fiquei imaginando se a corrente tivesse caído dentro do túnel. Uma lição re-re-re-re-(e haja re)aprendida: nunca deixe para depois o que você pode fazer agora. Devido a isso, tivemos que dormir mesmo em Uruguaiana.



A nossa próxima parada para dormir seria Vacaria-RS, mas resolvemos esticar um pouco mais e dormir em Lages-SC. No percurso, numa parada para reabastecer e inspecionar a corrente, observo que a porca do parafuso que prende a suspensão traseira da moto havia se desprendido. Recorro a um mecânico no posto que imediatamente a recoloca. Até Lages, tive que reapertar a corrente mais uma vez. Percebo que alguns dentes já estão desgastados e fico preocupado se daria pra chegar. Não havia outra solução. Teríamos que tentar, tendo o cuidado de verificar o aperto a cada parada.

Deixamos Lages e rumamos para uma das partes mais esperada da viagem: descer a Serra do Rio do Rastro. Passamos por São Joaquim-SC, uma cidadezinha onde os turistas vão para ver neve. Vimos, é claro, foi muito calor. Tanto que paramos pra tomar uma ducha num posto de gasolina. As placas já indicavam a proximidade da serra. Logo depois de Bom Jardim da Serra, paramos no mirante para visualizar a beleza da Serra do Rio do Rastro onde se avistava a rodovia serpenteando por entre a montanha. Um visual espetacular. Fixei a minha câmera Go Pro na proteção do motor, bem próximo do pneu e comecei a filmar a descida. O Fábio, com mais duas câmeras, uma no capacete e outra na dianteira na moto, também filmava. Não dá pra colocar agora o resultado, pois ainda vou ter que editar. A descida da serra é fantástica. São várias curvas com aproximadamente 180 graus. Paredões de pedras de um lado e o abismo do outro, onde se via muito verde e o colorido das flores às margens da rodovia, fazem da rota da Serra do Rio do Rastro uma das mais bonitas no mundo. Pra que não fiquem de água na boca, abaixo, deixo um link de uma filmagem aérea do local.

http://www.youtube.com/watch?v=29l6IntxKEA


Após curtirmos as belezas da Serra do Rio do Rastro, pegamos a BR-101 e rumamos para Curitiba para terminarmos a aventura.

Ainda escreverei o último capítulo desta saga cujo título será: Crônica de uma viagem anunciada.

Aguardem.






quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

15° ao 19° Dia - El calafate-Bariloche-Santiago-Vina Del Mar 18 a 23/01/2014

Saímos cedo de El Calafate, por volta das 07:30. Pretendíamos ganhar um dia de viagem, fazendo três em dois. No abastecimento em Esperanza, encontramos alguns brasileiros de moto. Percebi que nesta época do ano, há muitos motociclistas fazendo esta rota. Parece que quem é estradeiro deve fazê-la pelo menos uma vez na vida. Parecido com o ritual dos muçulmanos que têm que ir a Meca e andar em torno da Caaba. Em toda a nossa rota, desde Buenos Aires, o que mais encontramos foram motociclistas das mais diferentes regiões do Brasil. Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Goiás, Rio Grande do Sul e por aí vai. Entretanto, o que me surpreendeu mesmo foi conhecer uma senhora alemã, aparentando aproximadamente 55 anos, óculos tipo fundo de garrafa, bonachona, pilotando uma BMW pequena e antiga , vindo sozinha desde o Alasca. Aquilo me fez perceber que o que pode parecer impossível ou inalcançável, nada mais é do que um mero ponto de vista. 




O planejamento inicial era dormir em Puerto San Julian e Sarmiento, antes de chegarmos a Bariloche, mas resolvemos esticar um pouco mais e dormimos em Caleta Olívia. No dia seguinte, pilotamos até Bariloche fazendo um total de quase 2.000 km em dois dias. A rodovia chegando à cidade é formada por curvas fechadas que circundam lagos que formam uma paisagem linda. Apesar disso, tivemos que redobrar a atenção pois o trânsito estava intenso com carros que rumavam nos dois sentidos. Vimos dois acidentes no percurso, mas aparentemente sem vítimas fatais.

Não tivemos muita dificuldade em encontrar hotel, mas tivemos um desgaste, pois onde dormimos só tinha vaga para uma noite e não nos avisaram. No dia seguinte, quando fomos deixar a chave na recepção, avisaram-nos que teríamos que sair. Apesar das argumentações, não teve jeito. A sorte foi que havia outro hotel em frente onde havia vaga. 

Curtimos pouco a cidade, pois no dia em que íamos fazer um passeio pelos lagos, amanheceu nublado e abortamos. No caminho, paramos numa fabriqueta de cerveja onde provamos uma feita com framboesa. Segundo o menu, era a champanhe das cervejas. Um pouco adocicada. Não apreciei muito.



Depois de duas noites em Bariloche, rumamos para Victoria, a cidade onde dormiríamos antes de chegarmos a Santiago. Antes, porém, tivemos que cruzar mais uma vez a fronteira Argentina-Chile. Pra variar, outra burocracia. Perdemos quase duas horas. Logo depois, pra compensar, outra paisagem linda formada pela cordilheira dos Andes e lagos por onde a rodovia serpenteava, nos fez esquecer o contratempo da imigração. Uma nuvem densa e cinza anunciava chuva para logo mais. Não demorou muito e parecia que estávamos pilotando nas nuvens. Uma névoa branca e espessa nos fez redobrar a atenção nas várias curvas que à nossa frente apareciam. A visibilidade era de poucos metros e a chuva fina que formava gotículas que escorriam pela viseira do capacete, dificultava ainda mais a pilotagem. A velocidade, às vezes, caía para 40 km/h. O tempo depois melhorou e finalmente chegamos a Victoria, onde passamos a noite.

No dia seguinte, rumamos para Santiago. A rodovia, que desde Osorno já era pista dupla, facilitou muito o nosso percurso. Chegamos em Santiago e já sentimos falta do GPS. Este "pequeno" detalhe nos fez planejarmos dormir em Vina Del Mar, já que é uma cidade bem menor e seria mais fácil utilizar a técnica QTBVR. Tivemos dificuldade em encontrar a rodovia para Vina, pois não haviam placas com a indicação, apenas número da saída. Paramos num posto e pedimos informação. Mesmo assim, rumamos para o lado errado. Só após uma segunda utilização do QTBVR é que encontramos o caminho.

As placas indicavam Valparaiso/Vina Del Mar. As duas cidades praticamente são coladas. No caminho, muitos parreirais indicavam porque a cidade tinha este nome. Na noite anterior, vimos alguns hotéis pelo Booking, o que facilitou encontrarmos um hostal.

Na manhã seguinte, fomos a uma praia e demos uma volta pela cidade. Vina Del Mar é o balneário dos chilenos. Uma cidade para passar temporada.




Amanhã vamos para Mendoza, já na Argentina. Depois eu conto mais.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

13º e 14º Dias - Passeio em El Calafate - 17 e 18/01/2014

No dia seguinte, em El Calafate, tivemos que trocar de hotel, pois no que estávamos só tinha vaga pra um dia. O recepcionista nos ajudou ligando para alguns até que achou um no mesmo padrão. Fizemos a mudança e fomos em direção aos glaciares. Contratamos um passeio que fazia um mini trekking pelas geleiras. Na entrada do parque, tivemos que pagar 90,00 pesos. A estrada segue em volta de um grande lago. De vez em quando, algumas lebres cruzavam o caminho e tínhamos que manter a atenção, também porque a estrada era bastante sinuosa. De longe, começo a perceber uma paisagem branca. Os glaciares se aproximavam. Parecia que uma grande quantidade de mashmelow havia escorrido por entre as montanhas e congelado de repente. Uma vista deslumbrante. Estrondos do gelo caindo na água ecoavam pelo vale. Acho que era a comprovação do efeito estufa. Infelizmente não deu pra ver.

Estava na hora de andar sobre ele. Pegamos um pequeno barco e partimos em sua direção. Ventava um pouco e o frio começava a aumentar. O dia estava perfeito. Um céu azul de brigadeiro compunha com a imensidão branca uma paisagem bela. O sol batia por entre as frestas do gelo e o fazia ficar azulado. Um espetáculo da natureza. Paramos em uma cabana e começamos uma pequena caminhada por um bosque até chegarmos ao gelo. Antes, porém, o guia  nos deu algumas explicações sobre o fenômeno de formação dos glaciais. Pena que eu não entendi quase nada. Mas não importava. A paisagem estava ali para ser admirada. Depois eu pesquiso na Wikipédia.

Calçamos as botas com os esporões próprias para andar no gelo e iniciamos a caminhada. Eu soube que as pessoas bebiam whisky com o gelo dos glaciares e, para não perder a chance, tratamos logo de comprar uma garrafinha, na hipótese de eles não oferecerem por lá. Ao perguntar ao guia sobre este ritual, ele foi logo descartando, dizendo que não se podia mais fazer aquilo. Fiquei decepcionado, mas como estava com a minha garrafinha, iria esperar uma chance e beber escondido. Afinal, whisky com gelo de milhões de anos não é todo dia.

O passeio durou uma hora e meia. Tirei algumas fotos e fia algumas filmagens. Senti-me andando na Antártida. De vez em quando, passávamos por grotas que refletiam um azul deslumbrante provocado pela incidência do sol. Quase ao final do passeio, deparamo-nos com uma bancada onde estavam vários copos e whisky para bebermos com o gelo. Depois compreendi a negativa do guia quando perguntei sobe o ritual. Eles estavam querendo fazer surpresa.

Abaixo, algumas fotos que consegui postar nesse blog. Depois eu conto mais. 
   
 













quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

11º e 12º Dias - Ushuaia - Rio Gallegos - El Calafate - 15 e 16/01/2014

Depois de conhecermos Ushuaia, tínhamos que partir. Antes, porém, fomos a um irish pub, próximo do hotel, tomar umas cervejas que faz bem pra saúde. Ao entrarmos, deparamo-nos com uma torre de babel. Ingleses, franceses, alemães, argentinos, brasileiros se integravam num malabarismo lingual que não dava pra entender nada. Ao fundo, uma TV ligada passava o filme O Senhor dos Anéis. Se já não bastasse, avisto um senhor de cabelos brancos e longos que em muito lembrava o feiticeiro da saga. Ao seu lado, um jovem de cabelos lisos e compridos lembrava o herói de arco e flecha interpretado por Orlando Bloom. Parecia que estávamos nas Terras Médias. Tomamos umas três canecas de choop, cada um, e fomos dormir. Precisávamos acordar cedo.

De manhã, lá fora, o vento uivava por entre as folhas das árvores anunciando que pegaríamos frio na estrada. As montanhas com seus picos com neve permanente estavam cobertas por uma névoa branca. O tempo estava fechado e o vento frio soprava toda a humidade da montanha fazendo cair gotículas de água. Parecia que por lá nevava. Arrumamos as coisas e partimos. A estrada serpenteava por entre montanhas e vales. Alguns lagos e encostas íngrimes davam-nos a certeza de que estávamos nas terras do Senhor dos Anéis. Mais à frente, avisto uma placa que diz: Terra Média. Que coincidências!

Pegamos a estrada. No portal de entrada da cidade, paramos mais uma vez para tirar fotos. Mais à frente, uma chuva fina começou a cair, formando gotículas que deslizavam na viseira do capacete. Parecia que estava a olhar uma janela de vidro em uma cabana nas montanhas. Um dia frio, um bom lugar pra ler um livro....Deve ter sido numa situação assim que o poeta se inspirou. O frio era suportável. As roupas tipo segunda pele que eu usava ajudavam bastante. Depois eu soube pelo Fábio que o termômetro de sua moto acusava 2º. Por pouco não pegamos neve na estrada. Depois de uns trinta minutos, as nuvens se dissiparam e o tempo melhorou.

Pegamos o rípio novamente, mas desta vez mais destemidos. Chegamos na primeira aduana Argentina-Chile, em San Sebastian, e mais oito quilômetros depois na aduana Chile-Argentina. Perdemos cerca de quarenta minutos nas duas. Atravessamos o Estreito de Magalhães, mas desta vez não nos cobraram passagem. Encontramos um canadense numa BMW F-800 que já estava voltando de Ushuaia e indo para Buenos Aires pegar o avião, depois de ter vindo do Canadá de moto, percorrendo um total de 29.000 km. Preparamo-nos psicologicamente pra enfrentar a aduana na qual perdemos três horas na vinda. Ainda bem que a fila estava menor e não perdemos tanto tempo assim.

Estávamos dentro do nosso horário programado para chegar a Rio Gallegos, onde pernoitamos. Como as motos estavam sujas devido o rípio, tratamos logo de procurar um lavadero para dar um trato nas máquinas. Compramos algumas fichas e nós mesmos as lavamos. Rapidamente encontramos um hotel BBB. Á noite, fomos comer uma truta em um restaurante inglês, onde encontramos uma turma de brasileiros com algumas esposas que estavam indo para Ushuaia.

No dia seguinte, tomamos o desajuno e partimos rumo a El Calafate. Antes, porém, tivemos a ideia de fazermos uma reserva no Booking, o que nos garantiu uma vaga em um hotel sem ter que ficar procurando a esmo. Apesar de termos visto previsão de chuva, o tempo nublado logo melhorou. A paisagem até El calafate é, em quase todo o seu percurso, formado por campos de uma vegetação rasteira e cinzenta. Ás margens da estrada, no entanto, uma vegetação mais verdejante formado por pequenas flores brancas a deixavam mais bonita. Depois de algumas horas, avisto uma nuvem de chuva que já se precipitava. Felizmente, a estrada nos conduzia para longe da nuvem e só pegamos um pouco de asfalto molhado. Chegamos a El Calafate por volta de 12:30, depois de percorrermos 300 km.

A cidade é bem pequena e está cheia de turistas. Há uma rua principal do comércio onde perambulam
pessoas de um lado pra outro à procura do que comprar. Achamos as coisas um tanto caras e não compramos nada. Instalamo-nos no hotel e perguntamos sobre o passeio aos glaciares. Escolhemos uma que faz um trekking sobre o gelo. Vamos lá amanhã de manhã. Vou tirar fotos e tentar postar aqui. Se não der, ponho no facebook.

Até amanhã.